Palavra das mais belas é cachoeira (só de dizer cai), água-som, palavra irmã
de corpos. Havia uma fazenda atravessada por um ribeirão, de pedras negras
e grandes deitadas nas margens (nós deitados em cima delas sentiamos o sol
negro e quente nelas), borboletas de asas concretas – amarelas, verdes –
monocromáticas, em enxames, brilhos de som. Borboletas-pétalas-de-cachoeira.
Asas pretas, vermelhas, e brancas, todo um programa pictórico. Na grande sala
da casa, muito alto, negro, aberto, lento, um móbile do Calder, nocturna e não
menos solar grande borboleta. Soube esta semana que o pintaram às cores.
Merda pra isso. Grandessíssima porcaria.

Lá fora a cachoeira e o milagre das borboletas, móbile versão líquida.
Resta-me o Hermeto Pascoal das lagoas eloquentes que eu mais desejo.

Não é vídeo – é vida.